Ei, você!
Já produziu telejornal colaborativo, com reportagens geradas pela comunidade de internautas e transmitiu via videoblog? E doc-minuto interativo, já editou e uploadou numa página da rede? Série jornalística com roteiro transversal multimídia para celular 3G, tem vontade de fazer? Já sugeriu widgets para projetos de TV na web ou apps (os famosos aplicativos) para a rede colaborativa de que participa?
Aliás, é bom perguntar antes: você já ouviu falar de conteúdo produzido pelo usuário – o UGC? Sabe que o mundo já caminha para o PGC, o professional generated content? Usou FTP para publicar comentários gravados pela sua webcam? Hoje você já fez pesquisa de vídeos via Tags e atualizou a informação pelos feeds do RSS? Outra coisa: tem usado a sua rede de contatos para fazer marketing de guerrilha dos assuntos que lhe são mais caros? Vai fundo: propaganda do seu candidato nesta eleição, reclamação de um produto que não veio conforme as especificações...Manda ver também via microblogging.
Sopa de letrinhas indecifrável? Nada disso. Esse conjunto de atividades reunidas são a essência da Web 2.0, assim batizada pelo consultor americano Tim O´Reilly. Nesta fase da Web, a experiência coletiva se sobrepõe à individual, porque a tecnologia permite ao usuário participar do processo criativo. Como diria o francês Pierre Levy, no seu Cibercultura, “a Web - 2.0* - (...) é também o instrumento que permite os coletivos inteligentes se articularem entre si.” Não à toa a Revista Time elegeu “You”, ou seja, o usuário, como a personalidade do ano de 2006.
Se o email e os sites de busca (Yahoo, Cadê e depois o Google) formaram o centro gravitacional da primeira fase da Web, em que a Internet era usada mais como fonte de pesquisa junto à academia e empresas (fontes primárias de informação), agora os websites colaborativos (Wikipedia) e as redes socias (Orkut, Hi5, LinkedIn e em vídeo o YouTube) citam a tendência. A segunda geração de sites da Internet é aquele que estimula o usuário a participar e que firma a web como plataforma de serviços, gerados pela inteligência coletiva.
No jornalismo, Digg e Google News podem ser pinçados como exemplos da mudança do modelo de negócios trazida pela Web 2.0. O primeiro um site em que os usuários ranqueiam as notícias, que só então são comentadas pelos apresentadores do programa de TV. O usuário é, de fato, o editor. Tudo bem que o tema central dos meninos do Digg é a tecnologia, nada muito polêmico como a pena de morte. Por que aí entraria a sempre saudável discussão ética: se o meu leitor defende a pena de morte, devo eu defendê-la também? O Jornalismo tem sim a função de equilibrar visões.
No GoogleNews escolhe-se as editorias e via feeds recebe-se as atualizações. Telejornal interativo e 100% sob demanda. Corporativismos à parte, vemos o usuário como um importante colaborador na decisão da abordagem, mas é preciso sim um mediador com senso jornalístico. É preciso a garantia da credibilidade. Notícias não são entretenimento. Sobre cada take de um enquadramento da BBC vai ali impressa a certeza da qualidade daquela gravação. O desafio que se lança é aliar os avanços da Web 2.0 com a credibilidade adquirida pelas empresas jornalísticas. E que venha um site de notícias totalmente 2.0 e sem “marca” para que se prove o contrário.
*inclusão da autora.